Escadas

Comecei então a subir as escadas, devagar, procurando pela chave de casa pela minha mala. Bolas, as minhas malas são como poços! Achei finalmente as chaves, quando já estava à porta do meu apartamento, destrancando-a e entrando.

Encerrado.

Voltei a descer as escadas, indo para o local combinado.

Encerrado

Fui a primeira a levantar-me quando o toque de saída soou. Tinha que ir buscar Molly à escola e não podia chegar atrasada. Destranquei o cadeado da minha bicicleta, que apesar de velhinha, ainda andava na perfeição e montei-me nela. Depois de levar Molly a casa e de lhe dar o lanche fui até ao supermercado comprar umas coisas de que precisávamos. Saí do supermercado com as compras e comecei a caminhar a custo para casa, pois os sacos estavam muito pesados.

Já há algum tempo que Crystal e Edwin me pediam para ir comprar um bolo para o lanche deles, tentei ignorar e persuadi-los com uma super sandes mas eles eram mesmo meus irmãos, ou como se fossem, quando metem uma coisa na cabeça, ninguém lhes tira. À medida que voltava para casa depois de ter ido fazer a vontade aos meninos, a cantarolar uma música entre dentes como já era costume reparei numa rapariga extremamente bonita super carregada com sacos das compras.
- Precisas de ajuda? - meti conversa tentando para não me rir da sua expressão cansada.

Para além do peso dos sacos o sol brilhava e estava a começar a incomodar-me os olhos. Parei de andar quando um rapaz falou comigo. Olhei para ele toda franzida por causa do sol e abanei a cabeça - Não obrigada, eu consigo. - os rapazes e as suas manias de que têm mais força que nós.

Encolhi os ombros e ri-me deixando-a carregar os sacos mais dois passos à espera que ela desistisse a qualquer momento para a ajudar, como não o fez guardei os bolos dentro do bolso do casaco e cheguei-me mais à frente e peguei em alguns sacos deixando-a só com o mais leve. - A sério, não me importo nada. - sorri-lhe e olhei-a nos olhos pela primeira vez.

Ele lá se enxergou e me deixou continuar com o meu caminho. Caminhei por mais alguns minutos até que ele veio ter comigo outra vez. Levantei o olhar para ele e deparei-me com os olhos cor de avelã. Wow, o subestimador era bonito - Eu consigo. - repeti - Só por ser uma rapariga não quer dizer que vá morrer só por carregar uns saquinhos. - contornei-o e continuei a andar em frente.

Revirei os olhos, ela não percebia que não a estava a subestimar, só a queria ajudar. - Não estou a dizer que não tens força, mas não há necessidade de estares aí quase a morrer, eu ajudo. - voltei a retirar-lhe os sacos da mão sem que ela tivesse hipótese de contestar. Sempre que me aproximava conseguia sentir o cheiro do seu perfume, fechei os olhos e respirei fundo para o inalar melhor.

-Eu não estou quase a morrer! - contestei, indignada. Ele, teimoso de nascença só pode, tirou-me os sacos da mão - És um bocado surdo, não? Eu disse que não precisava de ajuda! - revirei os olhos, cruzando os braços - Deves sentir-te muito contente por levar os meus sacos. Aposto que vais sonhar com isto esta noite. - resmunguei, recomeçando a andar.

Ri-me sem me voltar para trás para a encarar e continuei a andar. - Mas eu quero ajudar. - repeti. A sua voz meio irritada deu-me imensa piada e parei para me rir durante um bocado. - Quem sabe, fica a saber que não era um mau sonho. - ela era realmente bonita.

-MAS DE QUE É QUE TE ESTÁS A RIR, HÃN? - virei-me de repente para ele, olhando-o com cara de má - ACHAS PIADA À SITUAÇÃO? OLHA QUE EU NÃO ACHO NENHUMA!!! - gritei com ele, revirando os olhos ao seu comentário - Realmente são todos iguais. - suspirei pesadamente.

Arregalei os olhos premindo os lábios um no outro formando uma linda reta para não me rir na sua cara. - Calma - disse meio entre dentes e voltei a pressionar os lábios um no outro. - Garanto-te que não somos todos iguais, existem excepções.

-CALMA O QUÊ? - voltei a elevar a voz - SÓ PORQUE ÉS BONITINHO E DEVES TER MEIO MUNDO ATRÁS DE TI NÃO QUER DIZER QUE EU ME CALE E NÃO TE DIGA O QUE TENHA A DIZER! - espetei-lhe um dedo no peito - Tenho a certeza que não és uma das exceções!!!! - resmunguei, agarrando-lhe no braço - Despacha-te estou farta de te ouvir.

Arregalei ainda mais os olhos à medida que ela gritava comigo, tinha os olhos fixados nos seus, só os desci por momentos para olhar o seu dedo que estava agora encostado ao meu peito. De tudo, só reti a parte em que ela dizia que me achava bonito, senti uma pontinha do meu ego a subir por instantes e sorri. - Se tu o dizes... - foi tudo o que consegui dizer e encolhi os ombros. Depois de caminhar mais um pouco e quando ela parecia ter-se calado meti-me de novo com ela. - Mesmo assim acho que não devias tirar essas conclusões sem me conhecer. - gargalhei. - Onde é? - mudei de assunto para o furacão não atacar de novo e pedi que me explicasse para poder levar os sacos até casa tal como prometido.

Revirei os olhos àquele sorriso de parvalhão e cruzei os braços, continuando o meu caminho o mais afastada da aberração que podia - Bastou-me olhar para esses olhinhos de cachorrinho abandonado que te fiquei logo a conhecer maravilhosamente bem. - sorri cinicamente - É ali. - apontei para o meu prédio - Solta outra vez uma dessas gargalhadas irritantes e vais ver. - aberração.

Para meu espanto ela não voltou a elevar a voz. - Tu não és de certeza igual às outras raparigas, elas costumam ser mais...hum...simpáticas. - sorri cinicamente e dirigi-me para a porta do prédio esperando à porta por ela para que a pudesse abrir.

-Ai é? - abri muito os olhos e fingi-me entusiasmada - Epá ainda bem, porque era mesmo esse o meu objetivo. - sorri com cara de parva muito perto da cara dele - Wohooooo! - continuei a sorrir feita parva, afastando-me dele para tirar as chaves de casa da mala.

Tentei manter o meu rosto sem expressão o mais tempo possível. - Então ainda bem! - também mostrei uma cara entusiasmada mas cínica e entrei para dentro do prédio. - Qual é o andar simpatia? - disse num tom de brincadeira e gargalhei baixinho.

Abri a porta e entrei, deixando-o entrar depois, apesar de a minha vontade ter sido bater-lhe com a porta naquela cara bonitinha - 1º, querido. - sorri cinicamente e subi as escadas virando-me para trás de repente - Eu ouvi-te a rir. - semicerrei os olhos e voltei a virar-me, continuando a subir.

Segui-a enquanto subia as escadas e comecei a pensar que depois de pousar os sacos em sua casa nunca mais a veria, tinha que arranjar uma solução para a encontrar de novo. - Peço desculpa, mas não podes exigir que toda a gente seja arrogante como tu, eu sou simpático de verdade, sim? - sorri-lhe meio aparvalhado.

-Eu também sou simpática! - resmunguei, andando pelo corredor até à porta do meu apartamento - Só que não gostei do teu machismo, a pensar que eu morria por carregar uns sacos. Para tua informação sou eu que faço sempre as coisas. Tou aqui ainda! - fiz cara de parva - Podia dizer que adorei conhecer-te mas estaria a mentir, dá-me os meus sacos e obrigadinha. - sorri forçada, e estendi a mão.

Ouvi-a atentamente. - Mas eu não te ofereci ajuda numa tentativa de ser machista e de dizer que não conseguias levar os sacos, ofereci ajuda porque vi que ias demorar o dobro do tempo a fazer e ia custar-te muito mais, então eu, uma alma gentil e humilde sem nada para fazer decidi ajudar-te. - sorri-lhe e pousei os sacos à sua porta. -Sem segundas intenções ou intenção de ofender. - reforcei ainda. Aproveitei a sua mão esticada para lhe dar um ''passou bem'' mesmo que não fosse o que ela tencionava fazer. Sorri-lhe mais uma vez e comecei a descer as escadas. - Eu gostei de te conhecer, por isso até à próxima loirinha. - gargalhei.

-Claro, porque tu para além dessa carinha de anjinho também és uma alminha solidária e que gosta de ajudar os outros. - ironizei, olhando-o com cara de nojo quando me deu um passou bem - Vou fingir que isto não acabou de acontecer. - tirei a mão dele da minha de imediato e baixei-me para apanhar os sacos depois de abrir a porta de casa - Adeus aberração. - revirei os olhos e entrei em casa, fechando a porta atrás de mim.

- O que é que te faz pensar que não é mesmo assim? Que sou mesmo solidário, hum? - gritei alto pelo simples facto dela me ter fechado a porta na cara. Revirei os olhos e dei um murro com força na parede que fez algum barulho, porque raio é que ela me via com tão má cara? Desci o resto das escadas a resmungar baixinho e a lembrar-me do que se tinha passado.