B L U M I G

Quando saíra de casa, não tinha um destino propriamente definido. Deixara-me guiar pelo som dos passarinhos e pelo silêncio da mente das pessoas.
Pouco depois, dei por mim a caminhar num jardim repleto de túlipas vermelhas que me afagavam levemente as pernas. Suspirando fundo, aliviada pelo silêncio na minha mente, caminhei por entre as flores, desejando não pisar nenhuma pelo caminho. Acabei por me sentar no chão a olhar para as nuvens com um sorriso leve na cara.

Ouvi um hey de um dos meus lados e virei a cara na direção da voz.
- Oi. - Disse também, sentando-me mais direitinha e colocando as pernas à chinês, enquanto observava a rapariga que chegara. Era loira e bonita e parecia mais ou menos da minha altura. Sem saber o que dizer - não era propriamente muito conversadora - comecei a brincar com as mãos.

Eu sorri-lhe.
- Oh... Claro que não. Senta-te. - Disse de imediato, ouvindo a voz do pensamento dela a dizer que eu fazia o seu género e que, além de ser bonita, também tinha um cabelo fantástico. Tentei levar isso como um elogio, mas ultimamente era difícil acreditar que alguém achasse algo de bom sobre mim. Eu desviei o olhar dela, meio corada. - Hoje o dia está muito bonito. - Murmurei. A sério? Não tinhas nada melhor para dizer?

- Hum hum. Pois está. - E sorri de novo, tentando parecer simpática e, ao mesmo tempo, descontraída. - O meu nome é Luna. Luna Psyche. - Afirmei e estendi a mão na sua direção. - Prazer em conhecer-te. - Acrescentei. Queria causar uma boa impressão nela, já que era a primeira pessoa que conhecia aqui.

Fiquei intrigada com o que ouvi na minha cabeça. Era certo que ela não dissera aquilo em voz alta, porque soaria demasiado estranho, mas, mesmo assim eu ouvira-o no seu pensamento. Que quereria ela dizer com sentido de médium?
Corando rapidamente, tentei abstrair-me dos seus pensamentos. Eu odiava saber o que os outros pensavam, porque considerava isso uma autêntica falta de respeito. Concentrando-me para ouvir apenas o que ela dizia, tentei sorrir.
- Não, não sou. - Disse, calando-me em seguida, sentindo que não devia dizer de onde vinha. - E tu?

- Sim. - Sorri com mais convicção. - E não é por tua culpa, descansa. - Afirmei sem nem sequer me aperceber que ela não dissera essa parte. Tentando que ela não reparasse muito nisso, voltei a falar. - Este sítio é fantástico. Desde que cá cheguei, parece que as coisas são diferentes. Mais calmas e... melhores. - Sorri de novo, referindo-me ao facto das mentes das pessoas não serem tão atarefadas nem tão confusas.

Eu assenti calmamente sem desviar o meu olhar do dela. De todos os locais por onde passara, nenhum me parecera como este local. E não sabia se era bem a palavra estranha que definia esta cidade.
- Bem, então e que idade tens? - Perguntei, tentando manter a conversa.

Com um sorriso, tentei disfarçar a confusão que me perpassou. Não percebera o que ela queria dizer com aquilo, se bem que de qualquer das formas, eu não tinha o direito de o fazer. O pensamento era seu e era privado. Eu não tinha sequer o direito de ouvir o que os outros pensavam, quanto mais percebê-lo.
Abanando a cabeça, a afastar tudo aquilo, falei de novo.
- Queres ir dar uma volta ou assim? Isto é muito bonito, mas não se faz grande coisa por aqui. - Eu estava a disposta a, pelo menos, uma vez na vida fazer amizade com alguém.

Levantei-me depois dela e sorri com força, realmente contente por ela não ter recusado. Se eu a achava estranha? Nem por isso. Até achava engraçado o facto de ela pensar que eu a poderia achar estranha, porque na maioria dos casos, as pessoas com quem falava é que me achavam estranha.
- Então e queres ir onde? - Inquiri, sacudindo a minha roupa. - Eu não conheço muito bem esta zona.

- Claro! - Exclamei, corando em seguida devido à meu entusiasmo demasiado evidente. - Ahm, pode ser. - Voltei a dizer, menos entusiasmada para disfarçar a minha reação anterior. Comecei a brincar de novo com os meus dedos, um pouco nervosa.

Eu caminhei, seguindo atrás dela sem saber para onde ia. Sinceramente, só esperava ter dinheiro comigo. Não queria nada ficar a dever dinheiro.

Encerrado.