cozinha

- Podes fazê-las na mesma. - sorri. - Deixa-me tratar, fazes antes o lanche que eu só sei cozinhar ovos mexidos. - fui num instante buscar a caixa de primeiros socorros e puxei uma cadeira para me sentar em frente à sua irmã. - O que precisares, vai-me dizendo que eu digo-te em que armário está. - comecei por limpar o joelho dela com uma compressa húmida com muito cuidado - Não te preocupes, eu não te vou aleijar. - desinfectei a mesma com água oxigenada.

Olhei para ele de sobrancelha erguida - Podes parar de sorrir um bocadinho? É irritante. - revirei os olhos, desviando-me para ele cuidar da minha irmã - Princesa, se aqui a aberração te aleijar faz aquilo que combinamos. - pisquei-lhe o olho.
-Mas Ana, o Justin é querido para mim.
-Nunca ouviste falar da história do lobo e do cordeiro? - agora até a minha própria irmã estava contra mim.
Afastei-me deles e comecei à procura das coisas que ia precisar - Juju, importaste se fizer um bolo? - procurei por uma taça onde pudesse misturar os ingredientes todos.

-Ate parece que a minha simpatia é um defeito, lá por tu estares sempre sempre de cara trancada.... - não acabei a frase ao ouvir um 'AI' da pequenina. Foi baixinho, mais ninguém ouviu mas eu olhei para ela, sorri e limpei a ferida com mais cuidado ainda. 
- Não ouvis-te a tua irmã? Eu sou querido com ela, não lhe vou fazer mal. - revirei os olhos e coloquei um penso por cima do arranhão quando acabei de o desinfectar. 
- Se disse que podes fazer o que quiseres... - dei um beijo na testa da pequenina e ajudei-a a descer de cima do balcão. Percebi que ela estava à procura de uma taça e retirei-a do armário entregando-lhe. - Meninas, se quiserem ir brincar lá para dentro podem ir. Vai mostrar-lhe a tua coleção de bonecas Crystal. - pisquei-lhe o olho ao qual ela retribuiu com um sorriso e subiu as escadas com Molly.

-Juro-te, se andasses com um espelho em frente da tua cara e visses o teu sorriso a toda a santa hora ias pensar exatamente o mesmo. - ri-me, acenando às nossas irmãs ao vê-las saírem da cozinha - Juízo meninas! - do outro lado da porta ouviram-se risinhos. Elas já não estavam nem aí, só queriam era ir brincar. Aceitei a taça que o Juju me estendeu e pousei-a na bancada - Queres bolo de quê?

- Se andasse com um espelho em frente à minha cara sorria o dobro nas vezes só para ver o quanto o meu sorriso é lindo e perfeito. - gargalhei. - Tenho assim tantas escolhas? Então pode ser um bolo red valvet de três andares com dupla cobertura de chocolate, recheio de baunilha com morangos frescos a enfeitar e raspas de chocolate branco.

-Para além de estúpido é convencido. - falei para comigo mesma mas alto o suficiente para que ele me ouvisse na perfeição - Não queres que te lave o rabinho com água de malvas, também? - sorri cinicamente. Revirei os olhos e abri a gaveta dos talheres, tirando uma colher de pau - Diz outra vez uma piadinha das tuas e dou-te com isto.

- Então? Já estás a falhar..pensava que eras grande cozinheira nem sequer sabes fazer esse bolo super fácil! - fiz uma careta. - Vá, pode ser de iogurte daqueles que são tão básicos que nem têm piada.

-Bom Juju, não vamos falar de ti e da tua capacidade de fazer lasanha. Ou da falta dela. - soltei gargalhadas de gozo - Tu é que não tens piada, com esse cabelinho todo penteadinho e esse sorriso colgate. - parti os ovos e deitei-os na tigela.

- Vou aprender a fazer a melhor lasanha do mundo só para te calar, vais ver Ana - pronunciei o nome dela com uma voz mais fininha e em tom de gozo.  - Não gosto quando me subestimam. - O meu cabelo nem sequer está penteado, acordei assim e foi assim que fui para a rua. - menti. - Já tenho é o cabelo perfeito desde nascença. Desdenhas tanto do meu sorriso, aposto que é o mais bonito que já viste até hoje.

-Duvido que consigas. Aposto que queimavas tudo. - deitei-lhe a língua de fora. Após ter deitado o açúcar e duas embalagens de iogurte agarrei na caixinha da farinha, abrindo-a - O sorriso mais bonito que eu já vi é o meu. - sorri prolongadamente de propósito com cara de convencida e quando ele menos esperava atirei-lhe farinha para a cara.

- Aceito o desafio então - estendi-lhe a mão enquanto soprava a farinha da minha boca. - Daqui a uma semana jantas comigo, a minha maravilhosa lasanha. Vou aprender a fazer só para ti. - Com a outra mão, que mantive atrás das costas peguei num ovo e parti-o trocando rapidamente de mão sem ela reparar.

-Claro Juju, és tão espertinho! Isso é tudo para eu jantar contigo? Estás com sorte porque eu quero rir-me da tua lasanha falhada. - gargalhei. Bati com a minha mão na dele para "selar" o acordo e arregalei os olhos ao ver que tinha ficado cheia de ovo - ESTÚPIDO! - num ato de irritação peguei num ovo e parti-lho na cabeça, espalhando-o pelo cabelinho lindo dele.

- Sim sim, estás é doida para aceitar o meu convite. - quando senti o meu cabelo cheio de ovo soltei um som de exclamação e peguei na tigela com os ingredientes que ela já tinha juntado e mergulhei a mão lá dentro passando a mão de seguida pela sua cara. - A ver se ficas mais docinha. - Gargalhei.

-Doidissíma. - ri-me ainda mais da expressão dele. Pena que não tinha telemóvel porque tinha sido o momento ideal para lhe tirar uma foto - JUSTIN! - gritei quando ele mergulhou a mão dentro da massa do bolo - Espero que saibas que acabaste de arruinar o nosso lanche! Nem penses que vou dar isto às crianças! És mesmo atrasado! - reclamei com ele, o mais séria que conseguia estar. Afastei-me dele com a tigela na mão, fazendo-o pensar que ia até ao caixote do lixo. Cheguei a meio do caminho e voltei para trás, pé ante pé, sem ser vista por ele uma vez que estava de costas para mim. Quando cheguei perto dele puxei-lhe a t-shirt para trás muito depressa e deitei lá para dentro alguma da massa.

Pousei as mãos nos joelhos inclinando-me para a frente enquanto me ria imenso com a expressão super chateada dela. - Não precisas de deitar fora, eu como - disse ainda entre as gargalhadas. Senti então, de repente uma coisa viscosa e fria a deslizar-me pelas costas, levei as mãos dentro da blusa para ver o que era e virei-me muito de repente ficando sem querer muito perto de Ana. Parei de rir e fixei os seus olhos por alguns segundos, ou minutos, e retirei uma mexa do seu cabelo da frente daqueles olhos verdes com as mãos sujas de massa mas sem desviar o olhar.

-Tarde de mais Juju. - ri-me à gargalhada, parando quando de repente ele ficou muito calado. À primeira não percebi mas ao levantar o olhar notei que estávamos mesmo muito próximos. Os olhos dele penetraram os meus, distraindo-me de tudo o resto à minha volta. Estremeci ligeiramente. Conseguia sentir o calor da mão dele apenas a alguns milímetros da minha cara. Entreabri os lábios para dizer alguma piada estúpida que cortasse aquele clima, mas o modo como os olhos dele olhavam os meus impediu-me de o fazer.

Eu não sei quanto tempo ficamos ali petrificados a olhar um para o outro, mas tinha de quebrar aquilo, não que eu quisesse, mas deviam faltar poucos segundos para ela me dar um estalo na cara. Coloquei a mexa do seu cabelo atrás da orelha e humedeci os lábios. Não estava a conseguir pensar em nada, quanto mais no que dizer, fechei os olhos durante algum tempo para me concentrar. - Hum.... - olhei em volta - Que bagunça.. - gargalhei por não estar a dizer nada de jeito.

Ficamos vidrados um no outro durante tempo indeterminado até que ele finalmente quebrou aquele transe. Agradeci-lhe mentalmente, pois, se continuássemos assim, tinha medo do que poderia acontecer a seguir - A culpa é tua... - mordi o lábio, rindo-me o mais naturalmente possível para disfarçar o embaraço - Eu estava só a brincar tu é que entraste logo a matar. - dei um passo para trás e pus o pé dentro da tigela que tinha caído no chão durante a nossa brincadeira. Perdi o equilíbrio, sentindo o meu corpo desandar para trás. Arregalei os olhos. Ia ser uma queda feia.

Nem tinha reparado que a tigela tinha caído ao chão, nem ouvi o barulho do embate de quão concentrado nos olhos dela estava. Quando Ana colocou o pé dentro da mesma e desandou para trás só tive tempo de me impulsionar para a frente e a agarrar pela cintura puxando-a para mim para ela não cair. Num ápice lá estávamos nós de novo muito próximos, desta vez, mais próximos ainda que da primeira vez.

Pensava que ia cair no chão desamparada mas Justin conseguiu agarrar-me, puxando-me para ele. Ao olhar para cima o meu olhar encontrou o dele. Fiquei completamente aluada e esqueci-me que tinha o pé cheio de massa. Coloquei-o no chão e escorreguei, fazendo-nos desandar para trás. Felizmente a bancada estava atrás de nós e Justin foi contra esta. Pus-lhe as mãos no peito e voltei a olhar para cima, mordendo o lábio.

Coloquei a mão no seu pescoço acariciando o seu rosto com o polegar. Os meus olhos que outrora fixavam os seus olhos desceram até à sua boca e mordi o lábio tentando ignorar a vontade que tinha de a beijar. Não o podia fazer, mas sentia-me aproximar mais a cada segundo que passava quebrando o pouco espaço que havia entre os nossos rostos. A mão vaga deslizou até à sua cintura e puxei-a completamente para mim até deixar os nossos corpos colados.

Fiquei muito quietinha, sentindo-me incapaz de me mexer. Parecia que o olhar e toque dele me conseguiam paralisar. Segui as mãos dele com o olhar, voltando depois a fixar-me nele. Reparei que mordia o lábio, gesto que me fez morder o meu também. O toque dele na minha cintura empurrou o meu corpo contra o dele. Ele era tão quente e os braços fortes à minha volta faziam-me sentir protegida. Senti-o aproximar a cara da minha até os nossos lábios roçarem. Nesse momento, as nossas irmãs entraram na cozinha a correr, não nos dando tempo de nos afastar-nos.
-ANASTASIA! - ouvi a minha irmã gritar. Dei um salto nos braços de Justin, afastando a minha cara da dele de imediato.

Baixei o olhar passando a mão na testa para os tapar e fingi coçar a cabeça. - Hum, aconteceu um acidente aqui na cozinha meninas, parece que vamos ter de ir lanchar fora. - Evitei olhar para Ana, era um bocado constrangedor devido ao momento que tínhamos acabado de ter. Alguma coisa não fez sentido, Ana? Mas Molly acabara de lhe chamar outra coisa. - Anastasia, quem é a Anastasia? - disse baralhado só pensando nos nossos lábios a roçarem um no outro.

Afastei-me rapidamente de Justin, desta vez tendo cuidado para não cair. Não queríamos episódios daqueles em frente às duas meninas pois não? Não respondi à pergunta dele, ainda estava atrapalhada e agora morta de vergonha.
-A Anastasia é a minha irmã! - Molly respondeu.
-Princesa onde é a casa de banho? - perguntei a Crystal de modo a evitar Justin.
-É lá em cima. - apontou na direção das escadas. Olhei para ela e depois para o meu pé todo sujo. Como é que eu ia conseguir subir as escadas sem sujar tudo?
-Importaste que lave o pé aqui na cozinha? - perguntei muito rapidamente sempre com os olhos fixos na parede.